O início de um novo capítulo

Novas formas de aceder a cuidados de saúde: Como as organizações podem liderar o caminho na inovação dos cuidados de saúde 

O acesso aos cuidados de saúde está a tornar-se cada vez mais difícil a nível global. 

Sistemas em rutura, custos crescentes, longos tempos de espera e escassez de profissionais de saúde estão a impedir que os doentes recebam os cuidados de que necessitam. 

Para as organizações, este problema é muito mais do que um problema de saúde pública; tornou-se uma preocupação crescente no ambiente corporativo. Os atrasos nos cuidados de saúde podem afetar adversamente a produtividade, levar a um aumento do absentismo e afetar a saúde e o bem-estar geral das suas pessoas.

Entre estes desafios, existe uma oportunidade. Os colaboradores continuam a depositar um elevado nível de confiança nas suas organizações no que diz respeito ao apoio nos cuidados de saúde, posicionando-as para desempenharem um papel vital no acesso a estes cuidados. Ao adotar modelos inovadores, como clínicas no local de trabalho, cuidados de saúde virtuais e ferramentas alimentadas por IA, as organizações podem não só melhorar o apoio aos seus colaboradores, mas também aliviar o impacto nos sistemas de cuidados de saúde já sobrecarregados. 

Sistema de cuidados de saúde sob pressão a nível global 

Os sistemas de saúde a nível global estão sob pressão intensa. As causas são complexas, mas conhecidas: envelhecimento da população, aumento da procura, escassez de profissionais de saúde, subfinanciamento e infraestruturas desatualizadas. As consequências podem ser significativas: tempos de espera mais longos, acesso condicionado a especialistas, erros médicos e diminuição dos resultados de satisfação do doente.  

 

O mais recente estudo global da Mercer Marsh Benefits (MMB), Health on Demand destaca o impacto desta situação nos colaboradores. Mais de um quarto (27%) confessaram atrasar a procura de cuidados de saúde nos últimos dois anos devido aos longos tempos de espera previstos para consultas, enquanto quase um em cada cinco (18%) adiaram a procura de cuidados devido a desafios que enfrentam no sistema de cuidados de saúde ou na procura de serviços adequados.  

 

Estes atrasos podem ter consequências graves — não só para indivíduos, que enfrentam o risco de piorar os resultados de saúde e enfrentar custos mais elevados a longo prazo, mas também para as organizações. O estudo MMB People Risk 2024 concluiu que quase metade das organizações (47%) está preocupada com perdas de produtividade devido ao fato de os seus colaboradores passarem mais tempo a procurar, navegar e viajar para obter cuidados de saúde, com uma percentagem semelhante (46%) a manifestar preocupações com o aumento do absentismo. 

Uma oportunidade para as organizações: Reimaginar o acesso aos cuidados de saúde 

Os colaboradores procuram cada vez mais as organizações ondem trabalham para obter ajuda no acesso aos serviços de apoio de que necessitam. Quase metade (44%) dos colaboradores confia na sua organização para disponibilizar o acesso atempado a cuidados de saúde acessíveis e com boa qualidade — ultrapassando a confiança nos sistemas de saúde públicos (37%) ou em outros programas privados (35%). Agora mais encorajadas, as organizações estão a começar a assumir o seu papel no acesso aos cuidados de saúde, com o relatório de Global Talent Trends da Mercer a descobrir que mais de um terço (36%) dos gestores de RH consideram uma prioridade principal para 2025 facilitar o acesso a cuidados de saúde. 

 

As organizações podem moldar ativamente novos modelos de cuidados mais acessíveis que tornam os serviços mais convenientes para as suas pessoas. Esta abordagem é relevante a nível global, mesmo em mercados onde o envolvimento das empresas na saúde das suas pessoas tem sido historicamente limitado. Apoiar os colaboradores não significa substituir os sistemas de saúde tradicionais; em vez disso, envolve a criação de novas vias de acesso a cuidados que complementam e melhoram os serviços existentes.   

Três formas de as organizações poderem fazer a diferença

1. Otimizar o local onde são prestados estes cuidados

As organizações podem otimizar o local onde são prestados estes cuidados de forma a facilitar o acesso a serviços de que as suas pessoas precisam, quando e onde seja necessário. As estratégias práticas incluem:

  • Cuidados no local: Implementar unidades de saúde móveis, como camiões de mamografia, para fazer rastreios preventivos diretamente no local de trabalho.
  • Apoio de saúde mental no consultório: Parcerias com terapeutas locais para oferecer aconselhamento no local pode ajudar a reduzir o estigma e aumentar a acessibilidade aos recursos de saúde mental.
  • Coordenação de cuidados: Apoiar os colaboradores com preparativos de viagem ou marcações para cuidados especializados pode ajudar a evitar atrasos e melhorar os resultados de saúde.

Mudar o local onde os cuidados de saúde são prestados pode melhorar o seu acesso?

Melhorar o local onde os cuidados de saúde são prestados pode melhorar o seu acesso em questões como: Tempo de viagem, local, telemóvel, farmácia, universidade, hospital, unidade de saúde móvel, casa, centro de saúde comunitário

2. Expandir o acesso através de cuidados virtuais

Os cuidados virtuais são uma ferramenta poderosa para expandir o acesso aos serviços de cuidados de saúde. Estas plataformas permitem aos colaboradores consultar profissionais de saúde, gerir condições crónicas e aceder a serviços de saúde mental a partir do conforto das suas casas. Isto é particularmente benéfico  para trabalhadores remotos, prestadores de cuidados e pessoas que vivam em áreas rurais. No entanto, é necessário uma implementação ponderada – comunicações com os colaboradores, desenho do plano, orçamentação e muito mais – para garantir a utilização adequada destes serviços e uma triagem eficaz dos doentes após consultas virtuais.  

 

O estudo Health on Demand da MMB  mostra que os cuidados virtuais estão a tornar-se rapidamente um elemento muito valorizado da experiência de saúde. Cerca de dois em cada cinco (39%) colaboradores afirmam que contactariam primeiro um serviço de telemedicina para uma série de problemas, desde pequenas preocupações médicas a condições de saúde graves.

3. Explorar o potencial da IA

A inteligência artificial (IA) está a emergir como uma força transformadora nos cuidados de saúde, e com o potencial de melhorar a triagem, oferecer diagnósticos de primeira linha e oferecer vias de cuidados personalizadas. Atualmente, um em cada cinco (21%) colaboradores afirma que valoriza ferramentas com recurso a IA que os ajudem a localizar cuidados para problemas médicos simples.

 

À medida que estas tecnologias continuam a evoluir e a melhorar, a IA pode ajudar a reduzir os tempos de espera, a melhorar a precisão do diagnóstico e a simplificar a experiência dos benefícios para os colaboradores. No entanto, é fundamental fazer uma implementação responsável. As organizações devem garantir que a IA melhora, não substitui, os cuidados humanos e que é introduzida de forma ética, com um forte foco na proteção do doente, transparência e segurança dos dados.

Medidas práticas para organizações 

Embora a introdução de serviços no local de trabalho, a expansão dos cuidados virtuais e a alavancagem da IA possam ser objetivos de longo prazo para muitas organizações, existem medidas práticas que todas as empresas podem tomar já hoje para iniciar a sua jornada:

 

  • Adotar uma abordagem baseada no risco. Utilize dados para desenhar a sua estratégia estabelecendo uma linha de base para identificar causas de doença e ausências de curto e longo prazo.
  • Ouça os colaboradores. Ouça diferentes segmentos de colaboradores para compreender os motivos que os levam a atrasar os cuidados e identificar oportunidades para eliminar barreiras dentro do controlo da organização. 
  • Avalie os tempos de espera. Avaliar como os tempos de espera afetam a força de trabalho e o negócio, e explorar potenciais soluções, incluindo o papel de alternativas privadas quando os sistemas públicos enfrentam desafios. 
  • Fornecer recursos de navegação. Oferecer recursos atempados, culturalmente relevantes e adequados ao local para ajudar os indivíduos a navegar no sistema de cuidados de saúde de forma eficaz.
  • Facilite o agendamento flexível. Permite aos colaboradores marcar consultas médicas sem penalização ou stress.
  • Promover a literacia em saúde. Educar e capacitar regularmente os colaboradores para tomarem decisões informadas sobre cuidados de saúde.

Um futuro mais saudável começa no trabalho

À medida que os desafios dos cuidados de saúde continuam a aumentar, as organizações têm uma oportunidade única de assumir um papel importante. Ao transformar o acesso aos cuidados de saúde e adotar modelos mais flexíveis, responsivos e inovadores, as organizações podem construir uma força de trabalho mais resiliente e promover uma maior acessibilidade à saúde. Esta abordagem não só beneficia os colaboradores, como também contribui para uma força de trabalho mais saudável e produtiva.
Sobre o(s) autor(es)
Gretchen Masters

Head of Advisory at Mercer Marsh Benefits, Australia

Neil Atkinson

Partner, Proposition and Innovation Leader, United Kingdom Mercer Marsh Benefits

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