Alterações climáticas e saúde e benefícios para colaboradores: Tempo de ação
Durante décadas, as organizações têm subestimado o impacto que as alterações climáticas podem ter na saúde e no bem-estar das suas pessoas. Isto tem de mudar — e rapidamente. Os eventos meteorológicos extremos podem ter efeitos potencialmente catastróficos na saúde dos colaboradores e das suas famílias, particularmente nos grupos de trabalhadores mais desfavorecidos que são os que mais precisam de apoio.
Alinhar os benefícios com a agenda climática
As organizações devem alinhar os seus programas de benefícios com a agenda climática não só para apoiar as suas pessoas, mas também para ganhar uma vantagem competitiva. Se não o fizer, é provável que resulte numa maior disrupção da continuidade do negócio, aumento do absentismo, diminuição da produtividade e custos elevados com cuidados de saúde.
Os últimos 20 anos assistiram a um aumento vertiginoso de eventos climáticos extremos e desastres relacionados com o clima. Um Estudo publicado pelo UN Office for Disaster Risk Reduction mostra que os incidentes de seca, calor extremo, tempestades, deslizamentos, incêndios florestais e inundações cresceram drasticamente desde o ano 2000 e deverão continuar a aumentar ainda mais, a menos que sejam tomadas medidas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e reduzir as temperaturas globais1.
As organizações reconhecem estes eventos climáticos como uma ameaça grave aos recursos, edifícios e infraestruturas, mas estão apenas agora a começar a reconhecer o impacto na saúde e bem-estar das suas pessoas. De acordo com o nosso relatório People Risk 2024, os desastres naturais e condições meteorológicas extremas foram classificados em 14º lugar numa lista de 25 potenciais riscos relacionados com pessoas que as organizações enfrentam 2.
Eventos climáticos extremos podem afetar a saúde e o bem-estar das pessoas de diferentes formas:
Algumas das consequências são diretas — por exemplo, verificou-se que o calor extremo agrava a asma e outras doenças respiratórias e aumenta o risco de ataques cardíacos fatais, AVC e arritmias3.
Já outros impactos, são indiretos. Por exemplo, as pessoas que vivem em áreas que estão a tornar-se cada vez mais propensas a inundações ou incêndios florestais estão a ter mais dificuldade em adquirir os seguros básicos de habitação2. Entretanto, as inundações, os deslizamentos e os incêndios florestais podem afetar o acesso a cuidados de saúde, perturbando as cadeias de abastecimento de medicamentos e destruindo o transporte e outras infraestruturas, deixando as pessoas isoladas. E a ameaça existencial das alterações climáticas tem sido associada a níveis elevados de ansiedade, stress e depressão5.
Grupos desfavorecidos com maior risco
Os colaboradores mais suscetíveis de enfrentarem eventos climáticos extremos estão muitas vezes entre os grupos mais desfavorecidos dentro da força de trabalho, como trabalhadores de construção em climas extremos, estafetas de bicicletas a fazer entregas através de tempestades torrenciais e trabalhadores de linhas de montagem a operar máquinas em fábricas quentes e sem ar condicionado. E estes grupos com rendimentos tipicamente mais baixos, os colaboradores a tempo parcial geralmente têm pouco acesso a benefícios de cuidados de saúde através das suas organizações, de acordo com o nosso estudo Health on Demand6.
Mais do que nunca, as organizações devem disponibilizar a estes colaboradores mais vulneráveis acesso a apoios de cuidados de saúde. Isto não só ajudará a garantir que estes grupos são capazes de permanecer saudáveis e produtivos no trabalho, como também terá um efeito estabilizador em toda a força de trabalho à medida que os programas de benefícios se tornam mais equitativos.
Oferecer um pacote de benefícios completo a todos os colaboradores pode não ser financeiramente viável para todas as organizações, mas há medidas que as empresas podem tomar para ajudar a trazer paridade e, ao mesmo tempo, alinhar as suas estratégias de benefícios com a agenda climática. O segredo é considerar, em termos práticos, os benefícios que os colaboradores podem precisar para apoiar o seu bem-estar e o das suas famílias face a eventos climáticos catastróficos.
Por exemplo, pode incluir a extensão da licença remunerada por doença a todos os colaboradores ou expandir os serviços de saúde locais, especialmente no apoio da saúde mental. Também pode incluir oferecer consultas de telemedicina financiada pela organização e outras soluções de saúde digital para melhorar o acesso a cuidados de saúde, caso os sistemas locais fiquem comprometidos.
Também podem existir ações específicas que as organizações podem tomar para abordar os riscos de saúde específicos dos seus colaboradores. Por exemplo, em regiões afetadas por aumentos de doenças infeciosas, como doenças transmitidas por mosquitos, as organizações podem considerar implementar programas de vacinação para as suas pessoas. Outros podem precisar de determinar se dispositivos wearable podem ser usados para apoiar a segurança das suas pessoas em caso de calor extremo nos locais de trabalho ou se precisam de implementar tecnologia de monitorização de tensão térmica em instalações que não podem ser equipadas com sistemas de refrigeração. Adicionalmente, os gestores de RH e de risco devem trabalhar em conjunto no planeamento de cenários para implementar planos de trabalho flexíveis caso os colaboradores não consigam chegar ao trabalho ou caso as escolas não consigam abrir.
Relatório People Risk 2024
Gerir os riscos ambientais enquanto riscos relacionados com pessoas
Workforce Health Coordinator, Latin America and Caribbean
Flexible Benefits Leader, India