O início de um novo capítulo

As organizações podem (e devem) apoiar as suas pessoas com uma doença oncológica. 

1217055967

Imagine Sara, uma contabilista de 50 anos que trabalha para uma multinacional. Foi diagnosticada com cancro da mama. A sua jornada para o cancro será influenciada por vários fatores, incluindo o país onde vive e os benefícios que poderá usufruir através do seu trabalho. 

Por exemplo: 

  • Se a Sara viver na China, poderá receber um pagamento fixo em dinheiro após ser diagnosticada com cancro, o que implica uma exclusão de qualquer cobertura privada de doença crítica futura.1
  • Se a Sara viver no Panamá, as seguradoras cobrem normalmente 80% dos cuidados oncológicos após a franquia ser atingida. A prática de mercado em licenças remuneradas permite 12 meses com pagamento parcial através de programas governamentais.
  • Se a Sara viver em Espanha, o sistema de saúde pública cobre as despesas médicas na totalidade, mas os longos tempos de espera podem resultar num atraso na triagem e tratamento.2

Em todos os cenários, as probabilidades de a Sara obter resultados médicos positivos irão variar com base no momento em que a sua doença é diagnosticada e na forma como é tratada e gerida. Da mesma forma, a probabilidade de manter a sua saúde financeira irá variar com base em diferentes fatores, incluindo: o custo dos seus cuidados; o impacto da sua doença e tratamento na sua capacidade de trabalhar; e os benefícios suplementares e políticas de licença disponíveis quer através de disposições públicas quer através da sua empresa. Independentemente de onde vive, a experiência oncológica da Sara será mediada pelos apoios práticos que o seu trabalho lhe pode proporcionar, incluindo benefícios médicos, acesso a licença remunerada, trabalho flexível e redes de apoio social.

Os casos de cancro estão a aumentar a nível global; espera-se um aumento de 77% no diagnóstico de cancro nas próximas três décadas.3 Ao mesmo tempo, os avanços na investigação melhoraram o tratamento do cancro, tornando as opções de intervenção mais eficazes do que nunca. Esta dualidade exige que o mundo - incluindo multinacionais - redefina os cuidados estratégicos do cancro a curto e longo prazo. Como podem as empresas apoiar pessoas como a Sara a nível médico, financeiro, profissional e social? Que medidas podem e devem as empresas tomar para proteger a saúde e o bem-estar holístico da sua força de trabalho dos danos causados pelo cancro?

* em dólares a preços constantes de 2017

O cancro afeta todos em todo o lado, direta ou indiretamente

Uma em cada cinco pessoas — de todos os segmentos da população — será diagnosticada em algum momento da sua vida.4

O cancro é um problema das organizações.

  • O cancro é uma das cinco principais condições por custo a nível global.5
  • Ser diagnosticado com cancro é um momento emocionalmente confuso e stressante para os colaboradores, que afeta a sua produtividade na vida e no trabalho.
  • O crescimento explosivo de novos tratamentos demonstrou uma maior eficácia em manter as pessoas vivas e produtivas, enquanto afeta significativamente os custos com o cancro.
  • Mais de 70% da população empregada a nível global identifica-se como um cuidador familiar.6

Existe uma associação entre apoio no trabalho e saúde e bem-estar positivo dos colaboradores.

  • Trabalhar pode beneficiar aqueles com cancro tanto psicologicamente como financeiramente.7
  • A perceção da ligação social pode aumentar a sobrevivência do cancro; a ausência do mesmo diminui a qualidade de vida e aumenta o risco de mortalidade.8
  • Os sobreviventes de cancro são mais propensos a não poderem trabalhar. Estudos mostram que aqueles em empresas mais prestativas têm maior probabilidade de continuar a trabalhar após o tratamento.9
  • Os prestadores de cuidados de cancro têm dificuldade em equilibrar o trabalho e a prestação de cuidados; apontam diversos impactos relacionados com o trabalho e a saúde mental, incluindo o presenteísmo e stress.10

As organizações podem apoiar as suas pessoas com cancro equilibrando empatia e economia na compensação total, benefícios e cultura organizacional.

  • Quase metade de todos os tipos de cancro são evitáveis.11 Embora a deteção precoce possa aumentar as taxas de sobrevivência, a cobertura e o acesso a serviços clínicos preventivos, como rastreios e vacinas, variam a nível global.
  • Existem aproximadamente 32 milhões de sobreviventes de cancro em todo o mundo; muitos vivem com ele como uma doença crónica.12 Este número irá crescer dadas as melhorias no rastreio do cancro, tratamentos cada vez mais eficazes e uma população envelhecida. Cada força de trabalho inclui sobreviventes de cancro; a cultura organizacional deve abraçá-los.
  • Estima-se que o custo global dos casos de cancro entre 2020 a 2050 seja de 25,2 biliões de dólares*; este custo crescente de novos casos, tratamentos e tecnologia está a transformar as responsabilidades das organizações e a colocar uma pressão sobre os benefícios para a saúde.13

O desafio do cancro em evolução

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o cancro é uma das principais causas de morte  a nível global: em 2022, houve 20 milhões de novos casos e 9,7 milhões de mortes devido ao cancro, o que se traduz em aproximadamente uma morte em cada nove para homens e uma em cada 12 para mulheres.14 A doença não respeita a idade: embora metade de todos os casos de cancro ocorra em pessoas com mais de 70 anos de idade, o cancro está cada vez mais a afetar uma gama mais ampla de outros grupos etários e dados demográficos. As taxas estão a aumentar rapidamente entre coortes mais jovens na força de trabalho. A nível global, o número de casos de cancro em pessoas com menos de 50 anos de idade aumentou 80% nas últimas três décadas.15

Não há nada universal sobre o cancro além da sua prevalência. Os tipos e taxas de cancro variam entre regiões e dados demográficos, incluindo rendimento, raça, género e orientação sexual. O acesso ao tratamento e apoio ao cancro também varia amplamente entre regiões e grupos demográficos. Não existe uma abordagem única a nível global para dar prioridade à ação oncológica e prestar cuidados adequados. As organizações têm de compreender o risco que o cancro representa para a sua força de trabalho, tanto a nível global como local.

Os cuidados oncológicos em si mesmos são cada vez mais dispendiosos e complexos. Conforme referido acima, o custo global estimado do cancro entre 2020 a 2050 está previsto ser de 25,2 biliões de dólares.13 Mercer Marsh Benefit’s Health Trends 2024 relatório identifica o cancro como uma das principais causas dos custos de sinistros em 2022 a nível global.5  Novos dados e tecnologias na prevenção, diagnóstico e tratamento do cancro, por exemplo, testes genómicos, terapia genética e terapia de células T CAR irão criar pressões financeiras ainda maiores. Esta confluência de fatores significa que as organizações devem ser estratégicas na sua abordagem aos cuidados oncológicos, definindo princípios orientadores de atuação a nível global e abordando sempre que possível a nível local a cobertura e eventuais lacunas.

Colocando os custos individuais de parte, o cancro tem impacto direto e indireto nos resultados de negócio.16 Para além dos custos com cuidados de saúde, pode afetar tanto as carreiras como a produtividade organizacional de uma forma mais ampla, afetar a gestão de carreira e exigir uma gestão ativa. 

O cancro afeta indivíduos e organizações

O cancro afeta indivíduos e organizações – Os impactos individuais incluem: Bem-estar físico, finanças, saúde mental, saúde social, saúde profissional e a dos seus entes queridos, prestadores de cuidados e colegas de trabalho. Os impactos organizacionais incluem: Custos com cuidados de saúde e outros benefícios, absentismo, nível de produtividade e gestão de equipas, cultura de equipas, saúde mental da equipa, disponibilidade de competências, planeamento de sucessão, inclusão e programas de equidade

A continuidade dos cuidados oncológicos

Os apoios da organização para indivíduos com cancro incluem prevenção, diagnóstico, tratamento e apoio da sua força de trabalho.
Abordar o cancro na força de trabalho deve focar-se em garantir que existe apoio adequado para o colaborador ao longo de todas as fases do seu percurso de saúde. 

Prevenção

Identificar ou detetar o cancro é a primeira linha de defesa. As considerações de estratégia devem incluir:

  • Rever o acesso dos colaboradores a serviços clínicos preventivos a nível global. Como é que os colaboradores e as suas famílias podem aceder aos serviços recomendados? Existem obstáculos para fazê-lo, tais como tempos de espera ou falta de cobertura?
  • Garantir que os colaboradores e as suas famílias podem aceder a serviços de prevenção clínica quando os benefícios médicos patrocinados pela organização são os meios para o fazer. Nas populações de colaboradores a nível global, benefícios como o rastreio preventivo do cancro e o acesso às vacinas recomendadas, são considerados muito úteis.17 Para esse fim, estes devem ser desenhados para incentivar a sua utilização, em vez de a impedir.
  • Oferecer aos seus colaboradores educação sobre a importância de modificar o estilo de vida. A nível Global, o tabagismo, o consumo de álcool, a dieta deficiente e a atividade física limitada são os principais contribuintes para o cancro.11
  • Associar colaboradores a opções disponíveis a nível público. A cobertura médica privada pode não ser a melhor resposta em todas as regiões geográficas. 

Diagnóstico

O diagnóstico precoce e preciso pode alterar significativamente o resultado para o colaborador e afetar o custo do tratamento. Ajudar os colaboradores a identificar e aceder aos fornecedores mais adequados (como primeira e segunda opiniões) é fundamental para garantir o diagnóstico preciso e a utilização de vias clínicas baseadas em evidências. Globalmente, procure parceiros da seguradora (internacional e localmente) que possam apoiar estes objetivos. 

Uma abordagem personalizada é importante nos cuidados oncológicos

As variações da população e geografias no diagnóstico, tratamento e mortalidade do cancro realçam a importância da educação personalizada, benefícios abrangentes e programas de apoio cultural e contextualmente relevantes. Considere as disparidades ao rever programas de benefícios para garantir a inclusão e equidade na saúde e eliminar enviesamentos. Concentrar-se apenas nos cancros mais prevalentes pode discriminar determinados grupos de colaboradores, países ou regiões com acesso limitado a cuidados de saúde.

Tratamento

Orientar os colaboradores para cuidados de elevada qualidade e remover barreiras no seu acesso é fundamental, uma vez que o diagnóstico errado e o tratamento incorreto podem resultar em resultados de saúde mais fracos. Apoiar os colaboradores que procuram tratamento a nível local ou através de um centro de excelência por desenhar um plano intencional e bem considerado. Isto pode ser conseguido com uma governação de benefícios global e eficaz, melhorar a experiência de navegação de benefícios e segundas opiniões médicas, sempre que seja apropriado.

Graças a tratamentos melhorados, muitos vivem agora com cancro como uma doença crónica que requer tratamento a longo prazo. Os sobreviventes de cancro podem necessitar de anos de cuidados de reabilitação, rastreios e seguimentos ao longo da vida — incluindo reincidências que necessitam de tratamentos e cuidados adicionais. Isto influência a cobertura e o desenho do plano de benefícios médicos.

Equilibrar a adequação e suficiência da cobertura

O fardo económico dos cuidados oncológicos a nível global é elevado e continua a crescer. Isto afeta diretamente os promotores dos benefícios de saúde da organização a nível global e os custos médicos atuais e os previstos. É vital que as empresas sejam claras sobre as suas obrigações locais e globais (para com os colaboradores, para com as comunidades, para com os negócios e para com os acionistas) e ajam sobre elas.

Outro apoio

Os doentes e os seus prestadores de cuidados estão envolvidos numa jornada de longo prazo que afeta todos os aspetos do seu bem-estar. As organizações têm interesse em abordar uma estratégia de Bem-estar Total, uma vez que faz a mediação da relação que um colaborador tem com o trabalho, no trabalho e na vida. Isto inclui garantir que os benefícios, políticas, processos e serviços são desenhados para apoiar os colaboradores com cancro ou em recuperação do mesmo, bem como a família e/ou comunidade que apoia diretamente esses colaboradores. Estabelecer uma cultura autêntica de cuidado e um ambiente de trabalho seguro são os primeiros passos para ser uma organização relacionável e de confiança. 

O bem-estar total é uma estratégia completa

O bem-estar total é uma estratégia completa do bem-estar físico (por exemplo, prevenção, fitness, cuidados continuados, cuidados pessoais); bem-estar emocional (por exemplo, saúde mental, resiliência, equilíbrio entre vida profissional e pessoal); bem-estar financeiro (por exemplo, gestão de dívida, bons hábitos de poupança, previsão, sentido de segurança); bem-estar social (por exemplo, ligações comunitárias, grupos de recursos, ambiente de trabalho, rede de apoio); e bem-estar profissional (por exemplo, Oportunidades de desenvolvimento, propósito, qualidade do trabalho, justiça e equidade.) Este ciclo está relacionado com a governação ambiental, social e corporativa; diversidade, equidade e inclusão dentro da organização; e com liderança organizacional, apoio e cultura.

Conclusão

A incidência de cancro e os seus custos tem e continuarão a aumentar de forma constante. Como destaca o exemplo anterior da Sara, os apoios disponíveis podem variar drasticamente dependendo do diagnóstico, localização, dados demográficos e muito mais. À medida que o panorama dos cuidados oncológicos avança rapidamente, vemos a evolução em tratamentos médicos personalizados e de precisão, métodos de deteção precoce e apoios práticos adicionais para colaboradores com cancro e os seus prestadores de cuidados. As empresas a nível global estão a reconhecer o valor do compromisso* em criar um ambiente de trabalho positivo  que apoie os colaboradores afetados e de implementar um conjunto consistente de apoios que ajudem a impulsionar o Bem-estar Total. Ao mesmo tempo, no entanto, as empresas terão de fazer escolhas difíceis na sua abordagem aos benefícios médicos a nível global, respondendo a questões de adequação e suficiência de cobertura enquanto limitadas por constrangimentos orçamentais. A equipa global de médicos e especialistas em conteúdos da Mercer Marsh Benefits pode apoiar as empresas que procuram o equilíbrio nestes objetivos potencialmente divergentes.

 

Esta é a primeira parte de uma série de artigos. A segunda parte }“Medidas práticas que todos as organizações podem tomar para apoiar as suas pessoas afetadas pelo cancro” descreve as medidas práticas que as empresas podem tomar.

* The Working with Cancer Pledge foi lançado em 2023 para chamar a atenção para os problemas que as pessoas com cancro enfrentam no local de trabalho.
Sobre o(s) autor(es)
Soluções relacionadas
    Perspetivas relacionadas