Um novo capítulo se inicia

Três abordagens que podem ajudar a mitigar o risco de IA no local de trabalho 

84% dos trabalhadores que usam IA generativa no trabalho disseram ter exposto publicamente os dados de sua empresa nos últimos três meses.

 

Este artigo foi originalmente publicado no blog do Fórum Econômico Mundial em 16 de janeiro de 2024.

A rápida expansão do uso de inteligência artificial (GenAI) significa que as empresas devem acompanhar rapidamente o ritmo de adoção dessa tecnologia entre seus colaboradores.

Quando o ChatGPT foi lançado em novembro de 2022, provocou um frenesi, apresentando novas possibilidades e oportunidades para as empresas. Consequentemente, aumentou significativamente os riscos que poderiam limitar o potencial máximo da IA generativa. Simplificando, a inteligência artificial generativa está se espalhando mais rápido do que muitas empresas conseguem implementar as medidas de proteção necessárias. Isso gera grandes preocupações.

Cerca de 84% dos trabalhadores que usam IA generativa no trabalho disseram ter exposto publicamente os dados de suas empresas nos últimos três meses, de acordo com um novo estudo de 16 países, com mais de 15.000 pessoas, realizado pelo Fórum Oliver Wyman.

Ao mesmo tempo, 71% dos colaboradores disseram que a automação mudará significativamente a forma como seu trabalho é realizado, e quase um terço dos diretores executivos e diretores financeiros estão redesenhando o trabalho para reduzir sua dependência das pessoas, de acordo com uma  recente pesquisa da Mercer.

À medida que a tecnologia da inteligência artificial generativa aumenta a produtividade (embora nem sempre seja segura), também revela gaps de competências (skills) e prejudica a motivação dos funcionários. As empresas precisam agir rapidamente não só para limitar o uso indevido, mas também para abordar as preocupações dos trabalhadores.

O fascínio da IA

O número de usuários semanais de IA generativa aumentou de 10% para 60% entre os entrevistados da pesquisa em junho de 2023 e, dependendo do setor, de 35% para 75% em outubro. Mais da metade dos colaboradores disse que usa inteligência artificial generativa pelo menos uma vez por semana, e cerca de um em cada cinco disse que usa diariamente. É especialmente popular entre trabalhadores mais jovens e em países com economias em desenvolvimento, como Índia e Indonésia.

Parte do apelo é que ferramentas como ChatGPT são fáceis de usar e fornecem feedback rápido, democratizando exponencialmente o acesso à IA por meio da linguagem natural em vez de código. A inteligência artificial é frequentemente caracterizada como um “companheiro de trabalho” que ajuda os funcionários a iniciar um projeto e realizar ainda mais tarefas; quase dois terços dos usuários cargos administrativos disseram que ela melhorou sua produtividade.

“Para mim, é algo como um espaço para trocar ideias”, disse um gerente de suporte ao cliente de 28 anos de idade que trabalha em uma fintech em Londres. “Muitas das coisas que você pergunta ao ChatGPT, você poderia discutir com seus colegas, mas nem sempre é possível fazer isso.”

Risco crescente

Muitas organizações estão mal preparadas para a IA generativa, sem a experiência ou a velocidade para gerenciar seus riscos crescentes de forma rápida. Com mais de quatro em cada cinco colaboradores dizendo que expuseram dados da empresa por meio de ferramentas públicas de IA generativa, desde a análise de dados corporativos até a escrita de e-mails com nomes de colegas, é necessário que as empresas acompanhem e se atualizem sobre esse tipo de risco.
Embora muitos funcionários tenham dito que suas organizações já possuem diretrizes para o uso de inteligência artificial generativa, elas podem não ser suficientes para mitigar esse risco: 92% dos usuários que disseram que seus empregadores têm diretrizes de dados para IA também afirmaram que vazaram dados da empresa.
Vazamento não é o único risco. Muitos líderes e colaboradores não sabem ao certo quando a IA generativa deve substituir a tomada de decisão humana e quando a IA deve apenas incrementá-la. Mais de 40% dos funcionários disseram ter visto resultados incorretos vindos de inteligência artificial e quase metade disse que usam fatos ou recomendações fornecidos por IA para tomar decisões sem a revisão de outras pessoas. Além disso, um em cada 10 trabalhadores admite usar IA generativa escondido de seu empregador, e 47% de todos os usuários disseram que continuariam a usá-la mesmo que seu chefe proibisse.

Ansiedade clandestina

Apesar da promessa, a tecnologia também está reduzindo a motivação dos colaboradores. Embora os trabalhos administrativos tenham sido afetados pela automação há muito tempo, 60% dos trabalhadores dessa área agora temem que a IA torne seus trabalhos redundantes. O Fórum Econômico Mundial estima que quase um quarto de todos os empregos (23%) globalmente mudará nos próximos cinco anos, com um crescimento estrutural de 69 milhões e um declínio de 83 milhões de empregos. Isso corresponde a uma redução líquida de 14 milhões de empregos, ou 2% do número atual.

Preocupações com a perda de emprego estão levando os funcionários a buscar novos cargos. Quase um terço dos candidatos a emprego entrevistados disseram que procuram novas posições devido à expectativa de mudança que a IA generativa pode causar no local de trabalho. Os países com a maior porcentagem desses candidatos a emprego incluem Índia, com 45%; Emirados Árabes Unidos, com 41%; e Estados Unidos, com 29%.

Os colaboradores dizem que sentem mais pressão para ter um desempenho melhor e mais rápido na era da IA. Cerca de 26% disseram que as ferramentas de inteligência artificial aumentaram as expectativas de que poderiam fazer mais trabalho e mais rapidamente, seja isso possível ou não Ao mesmo tempo, os trabalhadores preocupados com a IA têm 57% mais probabilidade de sentir que sua produtividade está diminuindo e 40% mais probabilidade de se sentirem ineficazes no trabalho, de acordo com dados recentes da Associação Americana de Psicologia.

Os empregadores podem minimizar os efeitos negativos causados pela IA generativa de três maneiras:

  • Fornecer treinamento de alta qualidade.
  • Distribuição de diretrizes claras sobre o uso da inteligência artificial generativa
  • Melhorando a comunicação sobre segurança no trabalho

Facilitando a redução dos impactos da inteligência artificial no ambiente de trabalho

  1. Capacitação de trabalhadores

    Os colaboradores reconhecem as falhas e os benefícios da IA generativa. A partir da pesquisa, 95% dos trabalhadores disseram acreditar que deveriam aprimorar suas habilidades nos próximos cinco anos devido à mudanças causadas pela IA. A maioria afirmou que preferem aprimorar suas habilidades diretamente com seus atuais empregadores – 80% dos trabalhadores de cargos administrativos, 76% de áreas operacionais e 74% de áreas de serviços.

    Quase um em cada três entrevistados disse que está buscando ativamente oportunidades de aprendizagem em resposta às mudanças causadas pela IA; mais da metade disse que o treinamento oferecido pela empresa sobre IA generativa foi inadequado. Mais de dois em cada cinco trabalhadores de cargos administrativos e operacionais disseram ter testemunhado erros gerados por inteligência artificial no local de trabalho.

  2. Tornar as diretrizes claras

    Ter diretrizes é uma coisa; implementá-las cuidadosamente é outra.

    Embora quase dois terços dos trabalhadores disseram que suas empresas possuem algum tipo de diretriz de IA, os colaboradores ainda precisam saber como usar consultas apropriadas, identificar vieses e evitar compartilhar informações da empresa publicamente. Eles também precisam verificar plágio.

  3. Abordando o problema

    Para evitar que os trabalhadores fiquem desmotivados desnecessariamente, os líderes empresariais precisam se comunicar de forma clara e regular com os funcionários sobre como a IA generativa afetará o trabalho, quais atividades serão substituídas, complementadas ou transformadas e as possíveis implicações para os empregos. Algumas empresas já limitaram as contratações para determinados cargos em decorrência de tecnologias inovadoras. Uma grande empresa de tecnologia, por exemplo, optou por não preencher 5.000 vagas porque esperava que elas fossem eliminadas nos próximos cinco anos pela IA generativa.

    Outra opção é criar caminhos para empregos alternativos ou reestruturados. Uma grande empresa de móveis, por exemplo, está treinando colaboradores do call center para se tornarem consultores de design de interiores. Seu bot de IA pode lidar com perguntas simples de clientes, enquanto os funcionários podem ajudar as pessoas com serviços mais complexos de melhoria residencial.

    Líderes de negócios e colaboradores estão em uma nova jornada com a IA generativa no local de trabalho. Ao oferecer qualificação contínua, estabelecer protocolos claros, criar oportunidades de colaboração e feedback e focar na transparência, as empresas podem ajudar a garantir que essa tecnologia resulte em mais produtividade e menos prejuízos.

Sobre o autor(es)
Ravin Jesuthasan

é Senior Partner, Líder Global de Serviços de Transformação na Mercer

Ana Kreacic

Diretora de Operações, Fórum Oliver Wyman

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